LXXX


De viagens e dores eu regressei, amor meu, 
a tua voz, a tua mão voando na guitarra,
ao fogo que interrompe com beijos o outono,
à circulação da noite no céu.

Para todos os homens peço pão e reinado,
peço terra para o lavrador sem ventura,
que ninguém espere trégua de meu sangue ou meu canto.
Mas a teu amor não posso renunciar sem morrer.

Por isso toca a valsa da serena lua,
a barcarola na água da guitarra
até que se dobre na minha cabeça sonhando:

que todos os desvelos de minha vida teceram
esta ramagem onde tua mão vive e voa
custodiando a noite do viageiro dormindo.

Pablo Neruda

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