Me cuida.
“Zé,
me adota. Cuida das minhas dores e dos meus anseios. Me olha no fundo
dos olhos. Enxerga minh’alma. Juro que não sou chatinha não. Não tenho
frescura, não gosto das coisas tão certinhas. Não fico horas na frente
do espelho mexendo no cabelo e tenho as unhas bem, bem feinhas. Sabe,
Zé, tô precisando tanto de alguém que me proteja dos meus medos. Dos
meus anseios. Zé, me carrega nas costas e me faz rir o riso mais doce
puder. Pega a colcha de retalhos, um filme bem sessão da tarde, coloca a
pipoca no forno e deixa que eu arrumo o sofá. Mergulha por entre os
cobertores e me deixa deitar no teu ombro. Zé, ri da vida comigo. Me
morde. Passa teu nariz na minha face fazendo dengo. Vem ser dengoso
comigo, Zé, vem. Deixa eu meter as mãos por entre os teus fios de
cabelo e te tocar o rosto de pele aveludada. Me deixa te olhar sem
falar nada. Me deixa ver a beleza desses teus olhos verdes. Fala nada
não. Fica quietinho. Zé, você é lindo. Põe - me nos braços e me chama
de tua. Ai, Zé, te quero tão bem. Faz acontecer em câmera lenta.
Aumenta o volume do rádio e dança o passo mais desengonçado junto ao
meu pela sala. Tropeça e cai no chão. Me leva junto pro chão, Zé. Me
faz cócegas e canta qualquer coisa no meu ouvido. Desafina. Afina.
Sussurra. Diz que vai me proteger e não me deixa ir embora. Zé, não vai
embora. Fica. Cuida de mim. Não se perde. Pega o papel e assina. Vai
Zé, me adota.”
RV
RV
Comentários
Postar um comentário