ver o sol.
Não adianta me oferecer o discurso de faculdade-emprego-família
como verdade absoluta. A gente não aprende a viver sentado numa
carteira de colégio. Não é a fórmula de Pitágoras ou a definição de
pronome oblíquo que vai fazer com que eu seja mais ou menos inteligente.
Saber organizar informações burocráticas em série e ser programado
roboticamente não faz de ninguém um ser humano repleto. Isso tudo só
rende uma possível colocação relevante numa prova de vestibular, um
êxtase momentâneo. A vida se aprende nas perdas. É perdendo a liberdade
que a gente descobre que não se encaixa, é perdendo alguém que a gente
descobre que não vale a pena lutar por futilidades, é perdendo o apoio
que a gente descobre que o resto do mundo não para só porque nosso mundo
parou. A gente vai aprendendo a viver assim, na marra, no grito, no
sufoco, no impulso. Eu quis mudar o mundo, quis ser brilhante, quis ser
reconhecida. Hoje eu quero bem pouco e prefiro me concentrar no agora do
que planejar um futuro incerto. Eu me libertei da culpa e dei de cara
com algo novo: não me encaixo, e aceito. Não é justo perder as asas no
momento em que se descobre tê-las. É preciso poder voar, é preciso ter
uma visão estratégica das janelas. Ver o sol e não poder tê-lo é
absurdo.
Então eu deixo algumas coisas
passarem incompletas porque tenho consciência de que certas palavras
ainda não têm tradução. Por mais que eu grite, vai ter quem não entenda,
não aceite. O que eu não aceito é ter nascido num mundo tão grande e
conhecer só uma pequena parte. Vou voar. Quem conseguir compreender, que
me acompanhe.
Verônica H.- Sol
Comentários
Postar um comentário