5.
sim, te pressentia
desde não sei quando
sem esperar, sem saber
sequer que pressentia
nos sonhos, nos inventos
nos futuros que supunha
e nem ainda tinha
nos rostos que mal via
tudo era vago então
difuso aquele tempo
dos corpos que eu não via
apenas tu eu
pressentia claro
nos caminhos de agora
mais que imaginário
no real de cada dia
em cada solidão ardida
te sabia assim
existindo ao meu lado
a falar exatamente
essas coisas fundas
exílios, prisões, partidas
que me falas agora
assim eras
quando eu te pressentia
como é agora
quando te percebo sendo
e
permaneço imóvel
como para não afugentar
uma borboleta pousada por descuido
na palma de minha mão
não digo nada
mas de certa forma
estou completo
apenas
de certa forma
Caio Fernando Abreu
8 de julho de 1980
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