.ruínas.


"Vórtice, voragem, vertigem: qualquer abismo nas estrelas de papel brilhante no teto."

As ruínas vêm contar a minha história. Há aqueles que nascem à primeira luz. O meu nascimento foi à primeira escuridão. O luminoso me foi roubado, o sombrio então me acolhe. Viver no corpo é doloroso demais. Abismo se torna abrigo e Hades se torna lar.

No mundo terreno que fui, morreu Alegria. Ressurjo em outros mundos. Do brilho que um dia me foi roubado dos olhos me torno mulher, da minha sombra que aqui conheci me torno Deusa.

Caminho entre as ruínas, abrigo o abandono. Minha cama é feita de cacos, assim como o meu coração. Meu abrigo é a destruição. Construo no que foi destruído.

Mas no meio da minha perdição, a obscenidade do teu olhar em mim, me puxa do meu abismo. As lágrimas regam. E trago comigo a primavera - aquela que não está no calendário, nem possui jardim.

Me torno aquela que caminha entre as montanhas e os abismos. A que conheceu as duas jornadas e encontrou um terceiro caminho. A que habita o centro do furacão. Aquela que caminha entre luz e sombra na busca do equilíbrio e as vezes o perde. A que desbravou a jornada para guiar a menina que atravessa o labirinto e nem sempre é pela procura da saída.


Minhas ruínas mostram as minhas cicatrizes, mas mostram a minha solidez. Sou voragem na vertigem do furacão. Abrigo o abandono e me encho de criação. Me diz, a tua obscenidade conseguiria voar no abismo que sou? A minha fluidez é a liberdade de saber que a cada lua e a cada sol, meu abismo tem estrelas.



.letícia lima.


fotografia: victor cavalcante

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