nomes .2. almas ou tulipas?



(...)

Uma outra voz, hesitante e tão frágil que Coraline pensou estar imaginando , disse:
- Está... você está viva?
- Sim - sussurrou Coraline.
- Pobre criança - disse a primeira voz.
- Quem são vocês? - sussurrou Coraline.
- Nomes, nomes, nomes - disse uma outra voz, longuíqua e perdida. - Os nomes são os primeiros a partir, depois que a respiração se esvai, e a batida do coração. Guardamos as nossas memórias por mais tempo do que nossos nomes. Ainda trago em minha mente imagens da minha preceptora em uma certa manhã de maio, trazendo consigo meu aro e minha vara, o sol da manhã batendo-lhe nas costas e todas as tulipas agitando-se à brisa. Mas esqueci-me de seu nome e do nome das tulipas também. 
- Não acho que as tulipas tenham nome - disse Coraline. - São apenas tulipas.
- Talvez - disse a voz com tristeza. - Mas sempre achei que aquelas tulipas deveriam ter um nome. Eram vermelhas, alaranjadas e amarelas como a brasa na lareira do quarto de brinquedos em uma noite de inverno. Recordo-me delas.
A voz soava tão triste que Coraline estendeu sua mão para o lugar de onde ela vinha, encontrando uma mão fria. Coraline apertou-a firmemente.
Seus olhos estavam começando a se acostumar à escuridão. Agora, Coraline estava vendo, ou imaginava ver, três formas, cada qual tão lânguida e pálida como a lua durante o dia. Eram formas de crianças aproximadamente do seu tamanho. A mão fria apertou a sua mão de volta.
- Obrigado - disse a voz.

(...)



Neil Gaiman, Coraline

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